CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO EM EDUCAÇÃO BILÍNGUE E ENSINO DE IDIOMAS

O Parecer 02/2020 e a Formação de Professores

By - Fabiana Franco*

Se você trabalha com Ensino Bilíngue, a esta altura já deve ter ouvido falar nas novas diretrizes que pretendem regulamentar esta área de atuação. O documento, que foi aprovado em julho de 2020 e ainda aguarda homologação, traz algumas mudanças importantes e necessárias, tais como carga horária mínima para cada etapa do ensino básico, organização curricular, e a formação acadêmica que passará a ser exigida para que os professores atuem em escolas bilíngues.

Entre todas as mudanças, a formação de professores é um ponto que tem sido considerado um tanto controverso entre os profissionais e pesquisadores da educação bilíngue. Graduação em Letras, Pedagogia ou área de especialização, certificado de proficiência em nível mínimo B2 de acordo com CEFR (Common European Framework), e curso complementar em Educação Bilíngue, seja de extensão, mestrado ou doutorado, fazem parte da formação que será exigida dos futuros profissionais do ensino bilíngue. Com esta lista em mãos, surgem várias perguntas: Qual a oferta de profissionais no mercado que já possuem esta formação? As universidades estão estruturadas para oferecer cursos adequados para estes estudantes? Quanto tempo um estudante levará até que consiga completar esta formação? Quais serão os custos dessa formação? Faz sentido que a certificação de proficiência na língua inglesa exigida seja de padrão internacional, contrariando o que recomenda a BNCC a respeito da formação de professores?

O crescimento exponencial da oferta de escolas que se denominam bilíngues nos últimos anos trouxe a necessidade de atrair e formar profissionais que pudessem dar conta de todas as demandas e diferentes necessidades que o ensino bilíngue exige. Esta formação, até hoje, tem ficado a cargo das próprias escolas, que nem sempre oferecem cursos, ferramentas ou suporte adequados aos seus professores. A falta de profissionais da pedagogia que também dominem a língua inglesa fez com que a grande maioria dos professores contratados seja da área de Letras, e muitas vezes estes não apresentam conhecimento ou experiência suficiente para abordar itens importantíssimos, especialmente nas séries iniciais do ensino fundamental, como letramento, alfabetização, e operações matemáticas.

Durante a minha experiência com Educação Bilíngue, tive a sorte de ter trabalhado em uma escola que sempre promoveu inúmeras oportunidades de aprendizado e formação. Tudo o que aprendi foi através de treinamentos, reuniões de formação e muita troca de ideias com colegas de trabalho, e assim pude aperfeiçoar a prática em sala de aula. Hoje, estudando e conhecendo mais a fundo as reais necessidades que precisam ser atendidas no que diz respeito à formação de professores, vemos que o ideal é que sejam especialistas em suas áreas e que trabalhem conteúdo e língua de forma realmente integrada. Isto implica desenvolver habilidades linguísticas em todas as áreas de conteúdo, transitando entre as línguas de instrução e não separando-as. Quando consideramos o conhecimento que os alunos já possuem sobre a própria língua, e que se transfere e interage com as demais línguas que estão sendo utilizadas para instrução, permitimos que utilizem todo seu repertório linguístico e desenvolvam ainda mais suas competências.

O Parecer 02/2020 é um primeiro passo importante, visto que até hoje não existe legislação que regulamente o Ensino Bilíngue no Brasil, e hoje vemos um movimento em busca de melhorar a qualidade da formação de professores e consequentemente do ensino oferecido nas escolas. Ainda temos um longo caminho de reflexão sobre como deve ser a formação dos professores, o acesso a esta formação, para promover uma real mudança de mentalidade sobre o Ensino Bilíngue e sua prática nas escolas e universidades.




*Fabiana Franco é mãe, professora e coordenadora pedagógica bilíngue. Atua desde 2008 no Educação Bilíngue e compartilha ideias e práticas da área através do perfil @fabilingue no Instagram.




Referências

Parecer CNE/CEB n.02/2020. Diretrizes curriculares nacionais para a educação bilíngue. Disponível em: AGUARDANDO HOMOLOGAÇÃO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO INTERESSADO: Conselho Nacional de Educação

LIVRO RECOMENDADO